terça-feira, 9 de junho de 2009

Mercadoria de “Bancão”?

Quem conhece Belo Horizonte e não sabe onde é a Avenida Paraná? Bem ali no centro, movimentada, freqüentada pelo verdadeiro belo horizontino... De comércio popular, bares, repartições e lojas de departamento... Que mulher, ao passar por ali, resiste à tentação de dar “uma olhadinha” nas mercadorias que ficam expostas nas “bancas”? Não importa a classe social, afinal elas ficam ali, as portas das lojas, praticamente no passeio... Coisa de mulher, que às vezes nem precisa daquilo... Que muitas vezes nem usaria aquilo... Mas, não custa dar uma olhadinha, né? O importante mesmo é saber o que está na “moda”.

Um grande desafio para o homem é acompanhar uma mulher numa “tarde de compras”... Para elas, as horas não passam... Elas olham tudo! De loja em loja vão examinando peça por peça... Mandam descer das prateleiras, experimentam, perguntam... O que vão levar nas sacolas, no final das contas, é só um detalhe, depende do dinheiro disponível ou do “dia bom” do cartão de crédito. “Pobres” vendedoras, só mesmo tendo “santa paciência”...

Não sei se é do “senso comum”, se é da “ordem” dos ditados populares ou se está incutido no subconsciente feminino... O que eu sei é que já ouvi muita mulher dizer que “mulher não se veste pra ela mesma, nem para os homens... Que mulher que é mulher, se veste mesmo é para as outras mulheres”... Não que isso tenha haver com preferências sexuais... Pelo que eu entendo, tem haver com o fato de que mulher é “reparadeira”, mulher “comenta”, mulher “critica”, mulher sabe ser implacável com outra mulher quando quer... Não digo isso de forma pejorativa, é coisa de mulher...

“Vou matar fulana de inveja”... “Preciso comprar uma roupa igual à de beltrana”... “Com este vestido serei o centro das atenções”... Estes são pensamentos que podem motivar uma mulher nas compras. Coisa de mulher...

Mas sabe, observando bem as coisas, fico pesando se este comportamento delas não se espalha para as outras áreas da vida... E se quando nos aproximamos delas na busca por alguém, de romance, ou mesmo de sexo, não nos transformamos em meras mercadorias, que como quaisquer outras irão passar por crivo... Crivo não só de uma (antes fosse só isso), mas de todas num determinado grupo de relacionamentos... Afinal, o que irão dizer “as outras”? E o que fazer se esta opinião é “importantíssima”?

Mercadoria tem que ter utilidade... De Adam Smith a Karl Marx... Este último, inclusive, falava sobre certo fascínio que a mercadoria pode exercer, uma coisa que ele chamava de “fetichismo”. Então, apenas pontuando, dependendo da marca, do preço, ou da aparência da mercadoria, as pessoas podem se sentir mais ou menos satisfeitas, de um ponto de vista subjetivo, se comparados dois produtos de mesma utilidade. Não estou negando que preço e qualidade muitas vezes estão juntos... Mas, digam-me, e se essa “satisfação” for motivada pela reação alheia? Acho que isso na verdade é bem comum...

Já pensou como é na “cabecinha” nebulosa delas? Como ficam nos analisando, fitando, “manjando”, tentando encontrar nossa utilidade? Afinal de que nós servimos? O quê fazemos? Onde trabalhamos? Quanto ganhamos? Quais são os nossos planos para o futuro? Que talentos temos? E nossas convicções políticas, morais e religiosas? Pra que time torcemos? Aliás, pra que serve torcer por um time? Tipo sanguíneo? “Nome sujo” na praça? Temos parentes importantes? Família do interior? Gostamos de crianças? E de rock? Bebemos?

Nessa hora, meu velho, é “salve-se quem puder”... Qual utilidade justificará nosso uso? Não pergunte isso pra mim... Quem me dera saber... Afinal nós (os homens) somos previsíveis e temos pouca ou nenhuma satisfação a dar aos outros da nossa “raça”. Já elas, são “traiçoeiras” como a noite, “manipuladoras” por natureza, “interesseiras” por instinto... Nossa “doce” perdição...

Mas segue a “pechincha”... E quanto aos defeitos? Todos nós os temos... Alguns têm mais que os outros, mas é só ficar “pertinho” pra perceber que eles estão lá... E eu que passei longe do “controle de qualidade”? Bom, sempre tem espaço nas “bancas”... Aquelas que sempre estão nas portas das lojas, quase no passeio, espalhadas ao longo do Av. Paraná...

Na “banca” é assim, a cliente já olha de cara torta, porque a mercadoria é de qualidade duvidosa... A “banca” está sempre cheia, mesmo assim ela se aproxima, talvez pensando encontrar o que passou despercebido aos olhos das outras, “as rivais” que também estão às compras... Então me vejo no meio daquilo tudo... Mercadoria passando de “mão em mão”... Todas olham, pegam, apalpam, conferem... Analisam o “estilo do corte”... Vasculham a procura do mais ínfimo defeito, daquele pedacinho que está descosturando, daquele botão “bambo”, daquele acabamento torto... E de “mão em mão” vou sendo puxado e jogado de um lado pro outro da “banca”... Se me desgasto, sujo ou amarroto, vou ficando velho na “banca”... Aí, me passam pra outra, onde o valor das mercadorias é menor... Até que enfim, rasgado e fora de moda, talvez sobrem os bazares ou brechós... Mas é melhor nem pensar o quanto vou valer nestes aí, porque é só pra “ajudar” mesmo...

Utilidade temos! Ou será que elas vão negar que nós as levamos pra passear, jantar, ao cinema... Que as buscamos e levamos em casa, como se fossemos seus motoristas particulares... Que conversamos seus assuntos, mesmo quando não nos interessam... Que as fazemos rir... Que elogiamos as mínimas coisas que procedem delas... Que fazemos “das tripas coração”, só pra ter a recompensa de um sorriso...

Não pense você, “bonitão”, que está livre da “Banca”! Lembre-se que não fui eu quem inventou isso... Foram elas! E “mercadoria de bancão” é assim mesmo... O que elas antes consideravam qualidade, logo poderão julgar inadequado... O que antes era atraente e moderno, logo se torna sem graça... "Chato" ou "engraçadinho" demais... Novo ou velho demais... "Machista" ou "romântico" demais... Alto ou baixo demais... "Atirado" ou "devagar quase parando"... E sem antítese: "feio", pobre ou "gordo" demais... Já ouvi até: "amigo" demais... Porque elas são insaciáveis... Sempre querendo “algo mais”, alguma coisa de "outro nível"! E embora a mercadoria continue servindo para o que sempre serviu, existe sempre uma desculpa pra ser descartada de volta pra “banca”, como se não servisse pra mais nada...

Alguém pode até dizer: “É assim mesmo, os tempos mudaram”! E de forma alguma nego isso também... Mudam se os tempos e as expectativas... O que não muda mesmo são as “bancas” e suas mercadorias... “Banca é banca”! Tudo ali dentro está pra ser exposto até o último “fiozinho” de tecido... Elas vão mexer, vão barganhar, vão até experimentar! E se levarem pra casa, não comemore ainda, não até que o prazo para a troca ou devolução termine... E depois de tudo isso, olhe lá se não vão te usar uma vez só, depois deixar apodrecer no cabide, pendurado num armário, enchendo de poeira e tendo que se acostumar ao cheiro da naftalina...

E eu que achava que a “banca” era ruim... Muito embora tivesse a certeza de que o "poder aquisitivo" da maioria delas só dá pra comprar produto de "banca" mesmo... Só sei, que uma hora ou outra, elas vão acabar passando pela Av. Paraná...

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3 comentários:

  1. Achei o texto diferente! Também um pouco machista! Quem sabe ainda você perceba que existem mulheres (ainda que poucas ou raras)que não esteja tão presa ao consumismo?

    Achei legal a iniciativa

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  2. Queria ver mulheres comentando o texto :)

    Posta mais.

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  3. Ei! Acho que foi a primeira vez que li um texto seu... você é muitíssimo talentoso.
    Sou uma fã incondicional
    te amo
    sua irmã mais nova
    Ana Júlia

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